Depois de quase cinco anos de preparativos, Joseph Safra deixou o
dia a dia do banco Safra. O banqueiro entregou a gestão da 8º maior
instituição brasileira em ativos a dois de seus quatro herdeiros.
Treinados pelo pai dentro do banco desde o fim da adolescência,
Alberto, de 33 anos, e David, de 28 anos, dão início à terceira geração
à frente do Safra. A transição foi formalizada há cerca de um ano, mas
foi neste que se tornou evidente para o mercado.
Engana-se, porém, quem pensa que "seu José" se aposentou. Aos 74
anos, o máximo que ele se permite até hoje é tirar alguns dias por ano
de férias com a família. Firme no trabalho, Joseph Safra parte para um
novo desafio: desenvolver o banco suíço Sarasin, comprado por ele em
novembro do 2011 por US$ 1,1 bilhão.
A postos para a empreitada, o banqueiro agora passa a maior parte do
ano na Suíça, dividindo-se entre as cidades de Genebra, base do J.
Safra Suisse, fundado em 2000, e Basileia, sede do Sarasin. "Mas é
claro que ele não deixou completamente de lado o Banco Safra e continua
acompanhando o negócio", diz uma pessoa próxima ao banqueiro.
Pode parecer estranho, mas o 52º homem mais rico do mundo, com uma
fortuna avaliada em US$ 13,8 bilhões, segundo o ranking da "Forbes",
tem a tarefa inicial de se apresentar aos também abastados investidores
do Sarasin. Bilionários de toda a Europa deixam sob a gestão do
Sarasin - que até o ano passado era controlado pelo holandês Rabobank -
US$ 106,8 bilhões.
"Lá fora seu José não é tão conhecido, principalmente quando se
trata da Ásia. Num primeiro momento, a missão dele é pelo menos manter
os ativos que tem sob gestão", diz uma pessoa próxima ao banqueiro. No
primeiro semestre deste ano, o banco recebeu 472 milhões de francos
suíços novos da clientela. Um ano atrás, o fluxo tinha sido maior,
positivo em 3,9 bilhões de francos suíços.
É na Ásia que o Sarasin tem feito recentemente grandes esforços para
crescer. Por enquanto, o continente é responsável por 18% dos clientes
do banco. Para ampliar a presença por lá, no começo do ano o banco
abriu uma agência em Cingapura. A equipe de Hong Kong também recebeu
reforços.
A seu lado na Suíça, "seu José" tem como braço direito seu filho
mais velho, Jacob, de 38 anos, que em julho assumiu um assento no
conselho de administração do Sarasin. Há vários anos, Jacob é
responsável pelos bancos da família fora do Brasil. Não são poucos.
Além de Suíça, há instituições em Luxemburgo, Gibraltar, Mônaco,
Bahamas e Estados Unidos.
Por aqui, os filhos Alberto e David ditam os rumos do Safra a partir
do conselho de administração. Nenhum deles tem cargo na diretoria
executiva. É Rossano Maranhão, ex-número 1 do Banco do Brasil, quem
preside o banco desde 2008 e assim se mantém. Cabe a ele um papel mais
institucional, das relações do Safra com seus mais variados públicos.
Mais velho, o herdeiro Alberto está incumbido do banco comercial.
Não é uma tarefa exatamente nova para ele. Em 2004, o herdeiro abriu o
banco J. Safra, fundado para competir com o próprio Safra quando os
irmãos Joseph e Moise disputavam o comando do banco. O impasse só foi
resolvido em 2006, quando Joseph comprou os 50% do irmão.
David, o filho mais novo, está com as rédeas do banco de
investimento, com as atividades concentradas no J. Safra. Assim como os
dois irmãos mais velhos, se formou na renomada escola de negócios
Wharton, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
Depois de uma fase de transição que se arrastou por pelo menos cinco
anos, os dois irmãos assumiram um banco com R$ 92,6 bilhões de ativos
totais, admirado pela concorrência pela habilidade de atravessar crises
sem grandes turbulências. Mas que vem perdendo espaço para a
concorrência nos últimos anos.
Em 2002, o Safra detinha 2,5% dos ativos do sistema financeira no
Brasil. Hoje possui 1,9%. Logo atrás do Safra, na 9ª colocação entre os
maiores bancos brasileiros, está o novato BTG Pactual, com R$ 7
bilhões a menos de ativos. O Votorantim também passou à sua frente, na
7ª posição. Em meio à recente escalada da inadimplência no sistema
financeiro brasileiro, a carteira de crédito do Safra encolheu em 12
meses, para R$ 47,6 bilhões.
No mercado financeiro, profissionais questionam se sob o comando da
nova geração da família o "modus operandi" do Safra continuará o mesmo.
Para quem é próximo do banco, não restam dúvidas de que sim. "Os
filhos são um pouco mais sofisticados na forma de tratar os negócios do
banco, mas o conceito é o mesmo", diz um executivo. "A família conhece
seus clientes como ninguém."
Autor(es): Por Carolina Mandl e Vanessa Adachi | De São Paulo
Valor Econômico - 07/12/2012